12 de julho de 2020

Mantenha distância 


adverte o caminhoneiro na sua traseira. Pois perante cada tradução deveria constar a mesma placa. Mantenha distância! A distância para o original em sua estrutura lingüística, que invariavelmente quer impregnar e efetivamente impregna nosso labor quando não for rotina aperfeiçoada.

É o constante “nós dizemos” do Agenor Soares de Moura, com que ‑ pasmem ‑ confronta até os melhores escritores-tradutores brasileiros. Não é mirabolante? Seria desleixo do tradutor? Penso, muito mais, que as ocorrências revelam a genuína gravidade do perigo corrosivo da transformação dos idiomas. Também o tradutor tem uma só cabeça - se bem que em seu interior dois cérebros claramente separados!

Em meio a boa tradução de um edital do British Council, deparo-me com um “tem como objetivo encorajar o intercâmbio”, direto do inglês. Nós diríamos “incentivar” ou “fomentar”, também acepções do verbo “to encourage”. Falsa amizade! Mais: “A novidade este ano é o Charles Darwin Award”. Quanta preguiça para quem recebe pagamento por palavra! Deveriam descontar o prêmio de 7 centavos do “award”. E um desconto pelo mau ordenamento da frase. Mal cheira também: “As pesquisas podem ser em qualquer área de Ciências.” Aqui ocorre, no mínimo, pobreza de estilo. Outro desconto. Será que há tradutor que no final do mês não consegue saldar suas dívidas com o patrão, após receber, como é uso em certas fazendas no seio do Brasil?

Os parcos exemplos já não se restringem ao âmbito relativamente simplório do vocabulário. Envolvem a estrutura da frase.

Com a experiência, eu mesmo comecei a adotar a técnica de não me deter muito nesses itens na primeira corrida, pois já numa primeira revisão consigo melhor me desprender do idioma “opositor”, o que facilita chegar intuitivamente às soluções não encontradas na febre da batalha original. Na revisão descubro as vírgulas de uma gramática não brasileira; orações e intercalações que soam mal enquanto não deslocadas ao agrado do ouvido.

O fator tempo é o melhor amigo do tradutor para este desembaraço dos idiomas. Separa - distancia - o texto concreto à nossa frente do emergente texto virtual em nosso fundo. Uma terceira e quarta revisão, com intervalos de dias ou semanas, são bálsamo para os inevitáveis contágios de nossas línguas, que nos acarretam dor de ouvido e depois não queremos engolir. Verdadeiro caso de otorrinolaringologista.

Sinceramente seu!

O cheiro do livro


Livraria livraria tem seu cheiro todo especial. Tem porque todo livro tem seu cheiro de livro. Livro novo, velho, mofado, plastificado, esquecido, ilustrado. Claro que, quando livraria definha virando papelaria, o pobre resto dos livros fraqueja. E a livraria virtual, então.

Tenho em casa, entre o cheiro de meus livros, dois extremos: um de abrir as narinas até os pulmões, o outro, de guardar a sete chaves na queijeira.

O cheiro do primeiro exala há muitos anos do Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa. Mais precisamente, de sua capa de couro. Triste verdade é que, após 26 anos de convivência, esta capa deu o que teve a dar. O odor está mais virtual que real.

Foi parar em minha estante também o Novo Dicionário Websters, distribuído em cadernos, como cortesia para o assinante de um jornal. Cada verbete procurado é uma ânsia de vômito. Que processo químico terão usado na produção? Teria sido a razão da cortesia da editora?

A bem da verdade – também este nauseoso há de sucumbir  ao tempo. Felizmente.

A tecla

é uma vez mais aquela em que estamos batendo tanto. É que me ocorreu mais um baita argumento, prático e oral. Provém da minha remota experiência de professor de alemão para brasileiros, e veio-me à tona quando reli o texto O gigolô das palavras, lembrado em lista amiga.

Todos, em nosso ramo, conhecemos aqueles acanhados em falar línguas estrangeiras ou estranhas, como que de fogo. Que fazer com essas pessoas que preferem não aprender a errar?
Como elas investem$$ no aprendizado do primeiro (dificilmente segundo) idioma estrangeiro, efetivamente precisam falar, e falam. Mas falam murmurando para evitar que alguém detecte seus inevitáveis erros.

Nestes casos, recorri ao que ouvira de incerta professora de línguas, que me convenceu de cara: fale alto e claro, fale para que escutem seus erros, que todo mundo lhe entenderá. Se não escutarem seus erros, pouco ouvirão e nada entenderão. Esses erros são evidentemente gramaticais, sabemos.

E não é a pura verdade? Conhecemos tanta gente estrangeira que muito peca em nosso idioma, mas os entendemos perfeitamente, pois são pecados apenas gramaticais, generosos e preposicionais. Digo perfeitamente em relação àqueles numerosos compatriotas que em perfeito português não dizem coisa com coisa.

Outra vitória da clareza e lógica sobre nossa querida gramática, nem sempre clara e lógica!

Doce transtorno


Será que acontece só comigo? Seja lá como for, fascina. E por isso comento.
 

Bi, tri ou multilíngüe - a gente fica lendo muita língua cruzada.

Em tempos de internet, é como que simultâneo. Pula-se de um artigo na Folha Online ao The New York Times, e já no Der Spiegel. E a coisa ainda pode se potencializar quando o pensamento vaga paralelamente em mais outros campos ocupacionais de nossos dia-a-dias. Aquilo de que qualquer psicólogo nos previne por maléfico a nosso bem-estar. Porém, seguindo analogia de filósofo não descartável nem longevo: existe por constatado.

Algumas vezes ocorre descompasso estonteante: lá vão os luzeiros, avançando ao compasso de anos-luz (300 mil km por segundo – imagine ler o jornal em facção de segundos!), ao passo que a audição interna, que sustenta a leitura muda, avança a 343 metros por segundo. Bem, a referência vale para o meio ar a 20 °C. Como em nossa singular cabeça pouco ar há de ter, porém muitos neurônios aquecidos a 37 °C, deverá ocorrer alguma aceleração de fator a mim desconhecido, não obstante sem qualquer chance contra a célere concorrente, tão aspirada particularmente no século XVIII.

Meu transtorno, pelo visto e pelo que confirmo, não passa de facções ‑ se bem que delas muitas ‑ de segundos (uma facção seria, provavelmente, pouco até para a percepção do black-out, desse preto e branco do qual estou falando).

Quando acontece, acontece quando troco a marcha, por assim dizer. Quando altero da língua primeira, de uma leitura profunda, para uma segunda. Paro num inesperado ponto morto. Num curto-circuito, mágico instante que me desperta e faz estranhar. Quando as palavras lidas já não fazem sentido e soam enigmáticas: nasais em inglês, th’s no português. Instantes de desorientação nebulosa, sem perceptível lei da gravidade, que ao menos me daria uma base inicial, uma referência para um reposicionamento.

A audição íntima dá um basta e puxa os luzeiros de volta ao ponto de partida, para conferência, sincronização e câmbio, para reinterpretação.

Dopado sem droga. Eu acho legal. Pena que é ocasional e não provocável.

Olá Ana! Hallo Anna! Hello Ann!

Oi, onde estão vocês três? Que sincronia! Fosse somente uma a desaparecida, o assunto não caberia nesse blog. Agora, logo as três! Isso deve preocupar o tradutor hodierno. Digo moderno, porque o tradutor clássico não terá experimentado a tríplice ocultação.

Na verdade, ainda sou um dos clássicos, se bem que não o último, por falta de idade. Quando vejo a lacuna, a preencho, como bem me ensinaram, já sem palmada, em tempos juscelinos e brizolistas!

Mas aí que está o problema. Aliás, um problema de obediente ex-secundarista. O que então esteve certo, hoje parece errado. A gente não o percebe quando falta apenas uma delas. Mas quando a Ana e a Anna, cruzando fronteires e oceanos, se tratam do mesmo jeito, e até a Ann cai no coro uníssono – então não podem estar todas erradas e eu certo!

É o que ando pensando. Sempre mais. Os textos que recebo me forçam a cogitá-lo. Os mails de todos os lados: de amigos e inimigos, de vírus, piratas e espiões. Nenhum deles quer saber de vocativos, que definham sem sua virgulazinha.

Não chego a nenhuma conclusão. Mudo o método. Paro de ler com os olhos e leio com a boca. E constato que elas têm razão. A fala não deixa o mínimo espaço para a vírgula. Realmente não cabe!

Nos tempos da formalidade, “Boa tarde, seu João!” era sinônimo de “Desejo-lhe uma boa tarde, seu João!” Hoje: “Olá Ana!” ainda significa “Dou-lhe um olá, Ana!”? Significa antes um ”Te percebi, Ana!”

Retornando ao ofício: se traduzo correspondência (e o faço), e ambos os lados escrevem na maneira moderna, já não sinto mais cacife para imprimir tempos idos a tempos modernos. As Anas me matam pelo cansaço. E é assim que as coisas evoluem e sempre evoluíram. Matando pelo cansaço. O que admira, é a simultaneidade nas três culturas, se não em outras mais.

Espiemos ainda, sobre o “alô”, o Houaiss, que está com um pé de cada lado do muro, onde vejo dois vocativos:
1 us. para chamar a atenção de outrem
Ex.: a. vocês aí embaixo
2 us. como saudação
Ex.: a., amigos radiouvintes

E eu toda manhã abrindo meus “Hallo Herr Dressel!” da nova geração de secretárias e de seus velhos seguidores! Fugir como? Acho que estamos liberando uma tecla para algum novo sinal. Talvez este: :)!

Toque mágico


Tenho alguns vocábulos que nunca encontro. Palavras corriqueiras e poucas, porém sempre as mesmas.

Não pode! pensa o leitor. Pode, sim, responde meu célebro, como diz minha filhinha e dizia eu infante. Algum cluster deve estar danificado, e o sistema não consegue reparar o dano. Ou a palavra não foi salva direito, logo de início, sem eu perceber. Deixa ver: são as palavras... as palavras .... Não tem jeito! Também! Com o cluster “quebrado”!

Chatice! Fosse ao menos pro inglês, onde tenho recursos digitais. Mas alemão-português. Nada! Que preguiça de procurar o gordinho em papel! Folhar e folhear e foliar ‑ que nem outono boreal. Deve haver outro jeito!

Descanso o queixo na palma, no punho, nalguns dedos dobrados. Fito a tela. Descubro o chiclete. O punho se abre, abre o chiclete, o chiclete faz a boca abrir. Calma, calma! Também o novo exercício físico não abre a gaveta certa na estante certa no corredor certo no setor certo do departamento certo. Lá no alto. Lá dentro.

Tu sempre sabia! Tantas vezes encontraste. É a mesma palavrinha.... Será possível? Será?

Espiada de soslaio ‑ lá está o gordinho. Puxa! Porque não te abres sozinho e pulas na tela, como outros fazem, sabidinho? Tirar as mãos das teclas é como dar uma parada em carro a 80. Tu sabes. A gente pára quando chega.

Deixa! Vamos dar mais meio minuto de chance ao andar de cima ‑ não é possível! Nada. Nada feito!

Tá bem, não tenho mais tempo a perder! Ganhaste, Langenscheid. Mas não me prega a mesma peça de sempre! - Silêncio. Nem olha.

Lanço minha mão em sua direção. O toque. A iluminação! Está aí a palavra! Palavra que nem estava na ponta da língua. É brincadeira (do dicionário)!

Às vezes não basta o toque para o efeito, é verdade. Aí é preciso folhar, encontrar alguma palavra que inicie com a respectiva letra ‑ e lá está essa palavrinha boa no esconde-esconde!

Um braço, uma mão, um toque em capa e papel – uma ponte, um curto-circuito, uma luz, uma solução (já conhecida)!

Hipóteses? Claro. Mas sobre fatos.

Ah! O toque teve seu efeito: são as palavras: sobrinho, ciúme - e mais algumas. Corriqueiras que só. Não disse?

Ética

Férias! Último dia! Deixemos assuntos cabeludos para a próxima semana. Fiquemos com a leveza do ser tradutor! Leveza que paira. Por definição. Coisa de segundo grau, de física e gravidade. Hoje, de ensino médio e de gravidez.
Cabeças humanas divagam. Fazem-no desde que são humanas. (Não: desde que humanas. Pessoalmente, creio que já o fizeram antes.) Quando literário o tradutor, ou das ciências sociais, o ofício reforça o vagar. Afinal, faz diferença descrever parafusos ou feições e corações.
Com que não nos alimentam nossos autores: paisagens naturais, paisagens humanas, perfiladas ou apenas faciais. A observação de uma flor e seu beijador. O mirar e pensar do cão amigão. As relações humanas e desumanas. Sons e odores, sentimentos e rumores. Já me envolvi com terrorismo e comunismo; lençóis freáticos, meio ambiente; solidariedade e educação. Tutti fruti. Como não acompanhar, pensar, sonhar, aprender e crer.
Meu atual autor me ocupa com a questão e gestão da ética. Reconheço na ética a palavra das palavras. Acima de amor e mandamentos. O pico da montanha dos conceitos. Houvesse ética generalizada, não bastaria? Não seria melhor do que o amor ao próximo, mandamento predileto da infiel? Ou o amor generalizado, não necessariamente ético?
Bem, é o campo dos filósofos. Limitemos as divagações:
São certas orações, certas abordagens que me vêm à mente nesta ocupação oficiosa com a ética. Já ouvi gente rezando por minha sorte financeira! Fico feliz em deus ter a grandeza suficiente de indeferir. Imagine a inflação zimbabuana que daria se atendesse? Bilionário, mais pobre seria do que o agora milionário.
Intrigam-me também os dois goleiros que, prestes ao início do chutebol, ajoelhados, em gestos cruzados, religiosamente imploram seus deuses, em geral idênticos, encomendando a sorte para si, o azar para o semelhante. Definitivamente! Não têm misericórdia para com seus deuses.
O humano desejo daquela hora só pode ser muito delicado, evidentemente - para não constranger. Algo como: “Dai-me minhas forças”! Afinal, é preciso ser ético.
Também com deus.

Tradução literária

 Gentileza de Dieter E. Zimmer
Dieter E. Zimmer nasce em 24 de novembro de 1934 em Berlin. É escritor (20 livros na temática Psicologia, Biologia, Antropologia, Medicina, Lingüística, Comunicação Social e Biblioteconomia), tradutor (organizador das obras completas de Vladimir Nabokov) e jornalista. Formou-se em Ciências da Literatura e da Linguagem, em Berlin, Genebra e nos EUA. De 1959-1999, foi redator do renomado semanário alemão liberal Die Zeit, periódico iniciado em fevereiro de 1946, com hoje mais de 2,1 milhões de leitores. Zimmer obteve nove prêmios, dentre eles dois prêmios por traduções: o prêmio Helmut-M.-Braem, em 1996; o prêmio Fundação Heinrich-Maria-Ledig-Rowohlt, em 2008.
Não pude deixar de primeiramente apresentar ao leitor brasileiro este grande jornalista alemão, ademais tradutor e escritor, de quem ando expondo um capítulo, por mim seqüenciado, que referencia especificamente o ofício da tradução. Ao perceber que das poucas linhas citadas jorravam parágrafos e páginas, não tive como não solicitar o consentimento do autor para dar continuidade a suas observações aparentemente intemporais.
Responde Dieter Zimmer: „Uma vez que, a meu ver, meu livro ‘Redens Arten’ está fora do prelo, voltou a pertencer a mim – assim creio ‑, e portanto posso com todo prazer conceder-lhe a permissão para a publicação do capítulo Concurso dos tradutores em seu blog.”
Agradecemos ao Dr. phil. h.c. (Univ. Técnica de Dresden, 2003) Zimmer pela cortesia. Confira sua página web: http://www.d-e-zimmer.de/
Concurso de tradutores
A provisória indispensabilidade do human translator
Inícios de 1965, a Freie Akademie der Künste de Hamburg (Livre Academia das Artes) promoveu um congresso internacional de tradutores e, neste contexto, um concurso de tradutores em cooperação com o semanário Die Zeit. Devia ser traduzida uma prosa impressionista de Graham Green, ainda não disponível em idioma alemão: The Revenge. A participação foi grande: houve 620 remessas, todas anônimas. Como redator de um caderno da “Zeit”, fui parar no júri, decerto por ter tido oportunidade de ter alguma experiência como tradutor literário. Não dispunha de teoria da tradução, nem posteriormente a desenvolveria (na prática da tradução, tão pouco ajuda quanto a termodinâmica no preparo de um grelhado). Traduzira, contudo, autor exigente que passara a vida circulando entre duas línguas – Vladimir Nabokow. “Quando um tradutor começa a traduzir o ‘espírito’ em lugar do mero sentido de um texto, já começa a trair seu autor”, escrevera Nabokov; aliás, mandara simplesmente destruir uma tradução insatisfatória (sueca) de sua “Lolita”. Certamente não pretendera negar que uma obra compreende também algo como um “espírito”; quis apenas acautelar-se contra tradutores que grosseiramente ultrajavam o sentido literal em nome de um “espírito” vago e, certamente, nunca apreensível. Em resumo: certa precisão parecia-me muito desejável; a aspiração da precisão, porém, veio acompanhada da compreensão de que uma tradução pode ser precisa em diversos patamares, e que a precisão num deles pode ser a imprecisão noutro. Pode, por exemplo, tentar imitar a sonoridade do original, sua ressonância, aliteração – desconfigurando e desviando os sentidos das frases. Ou pode reproduzir com grande equivalência as estruturas frásicas, alcançando justamente desta maneira um grau de fluidez ou dificuldade não próprio ao original, tornando-se, assim, imprecisa. A boa tradução, assim me parecia, só pode ser um meio-termo que trate de ao menos diminuir as imprecisões dos diversos patamares. Agrega-se a isso que até palavras sinônimas de dois idiomas não costumam ser total e verdadeiramente equivalentes; e que mesmo as frases mais simples podem geralmente ser traduzidas nas mais diversas formas, bem como as preposições por trás, que ainda no idioma fonte poderiam ter sido expressas de diversas maneiras. Tudo isso havia me convencido de que qualquer tradução pode apenas ser aproximativa, infelizmente – e que seu crítico deve, portanto, dar um (certo) desconto: não pode aquilo que ele mesmo prefere considerar a tradução “correta” sobremodo ser o padrão das coisas.”
Essa venialidade já não resistiu depois da leitura de 620 traduções de um mesmo texto. (...)
Para um texto como o em questão – prosa moderna de uma cultura familiar, que pretende e deve antes ser lido pela narrativa e não por específicos interesses lingüistas ou outros ‑, para tal texto, afinal o caso mais comum, espero do tradutor que ele reproduza primeiramente o sentido terminológico com a maior precisão possível; e, por segundo, que mantenha o quanto possível (o máximo) daquilo que prefiro denominar de aura de um texto: cadência, ritmo, patamar estilístico, associações despertadas, carga histórica de sua linguagem. Creio ser essa a tarefa.
A peça impressionista de Graham Green não é lá muito difícil. A desvantagem: a tradutores realmente bons oferecia poucas possibilidades de comprovar suas habilidades. A vantagem: não haver condições extremas senão as do cotidiano tradutório.
Não obstante, veremos que também “A vingança” teve os seus busílis. Não é nada fácil imitar no alemão o parlando da lacônica dicção greeniana, aparentemente leve, relaxada, porém nuançada; a caminho de nosso idioma, tudo isso prontamente adquire o peso de uma esponja encharcada. Ademais, havia armadilhas. Aquela em que a maioria caiu consistiu em seis palavrinhas, um diálogo: He went into Cables and died. Cables, em maiúscula: não consta em dicionários. Significava: Ele foi à Cable & Wireless (hoje companhia para o trânsito internacional de telefonia e telégrafos do correio britânico), e morreu.
Admitido, (;) ninguém precisa saber isso. Só que faz parte do serviço comum do tradutor, resolver questões que na verdade não se sabe nem se pode saber. Ou a gente sabe suprir a lacuna no conhecimento; ou a gente encontra um jeito elegante de se sair dessa. Quem, portanto, traduz: Ele foi à loja de cabos e faleceu, não está de todo certo, mas ao menos percebeu que Cables deve ser alguma firma, de modo que sua solução se enquadra sem percalços no contexto.
Agora, as contorções de quem não sabe encontrar saída: foi parar entre cordames; foi parar numa confusão de cordames, e neles morreu; chegou aos cordeiros; foi a Cables (lugar a ser ainda fundado, noutros casos simplesmente chamado C., por má consciência); tombou na invasão de Cables. Outros lhe atribuem uma convulsão tropical ou o mandam para um campo minado. Enigmático soa: Foi para o Cables (cinema ou zona?) E assim vai indo, até as pitorescas soluções forçadas: Teve azar e se foi; foi pro outro lado: corrente de alta tensão; lutou contra os cabilas; foi a Cabul; foi a Cabale, sociedade secreta difundida particularmente na Malásia; ocupava-se com contos à la Cable; disse “poh” e se finou. Este é apenas um pequeno recorte.
Bem, creio que já transparece meu objetivo: esse concurso revela uma quadro um tanto desconsolador das habilidades tradutórias que dormitam neste nosso país. Qual a razão? O fato de qualquer um poder participar, integrando-se muitos diletantes e calouros? Talvez. Só que, temo, não foi isso que diminui a aflição com o resultado. Pois poderemos primeiramente supor que um conto, e fácil, encaminhado a um concurso, terá sido trabalhado com maior primor do que um livro grosso traduzido sob a pressão do tempo; que, portanto, noutros casos a (inevitável) displicência resolve o que aqui causa o diletantismo; e, por segundo, há mesmo editoras que ajudam para a impressão ainda aos mais displicentes.
Em resumo: entre esses 620 manuscritos não havia um que gostaria de ver impresso sem qualquer controle de um revisor oxalá entendido; e diversos beyond repair, o que seus autores certamente traduziriam com além da percepção. O júri tinha clareza de que para cada frase dos premiados haveria sempre alguma frase nos demais manuscritos que encontrara uma solução melhor – só que então em ambiente questionável. Da mesma forma, seria possível encontrar para cada frase da pobre versão impressa na página 189 outra ainda mais pobre; uma abstrusidade um tanto desmedida contém, no entanto, uma originalidade ímpar, e já não permite integração em qualquer contexto.
1. Pedantismo
Toda tradução é interpretação. Pretende reproduzir o que o tradutor entendeu de um texto, o que pode ser mais, pode ser menos, pode ser algo bem distinto daquilo que o autor quis expressar. Ademais, uma frase dificilmente pode ser tão simples que não haja possibilidade de traduzi-la de diversas maneiras. O tradutor compara-se a um instrumentista: como este, deve dar novo formato a um objeto concebido por outrem, de certa forma existente apenas virtualmente para ele. É tolo condenar a “tradução interpretativa”, como constantemente ocorre. A tradução não pode senão ser interpretação. A questão é apenas se o tradutor interpretou certo – ou ao menos se movimenta num quadro plausível.
Algo bem distinto é, contudo, a tradução pedante. O translateur que sempre sabe tudo melhor do que o autor, em toda frase obstinadamente empenhado a se produzir, a quem não basta traduzir The Revenge com A revanche, firmando em vez disso A revanche de um homem ou Revanche petrificada – causa devastações quase maiores do que o simples ignorante (que, aliás, não deixa de ser).
Em momento determinante, Greene compara o desejo da vingança em seu conto com um ser, um animal sob uma pedra: a creature under a stone. Animal, ser – algo insuficiente aos pedantes. Seus unidos esforços geram verdadeiro zoológico. Sua pedra cobre vermes, vérmina, rãs, besouros, cobras, víboras, cobras-cegas, sáurios, lagartos, répteis, gusanos, seres animais, pragas, bicharedo, bestas, demônios e monstros; aparecem besouros pestanejantes, bichos-de-conta à procura da luz, insetos vingativos; sequer falta um porquinho-da-índia confinado em escura caixa metálica, alimentado com seixo.
Os mais afoitos pedantes não têm pudor em enlaçar verdadeiras frases de produção própria. O leitor atento costuma percebê-las por sua tolice.
2. Censura
Variante do pedantismo é o costume de censurar moralmente o autor traduzido. A história de Greene pouco motivo ofereceu para tanto; não houve trechos ou vocábulos ofensivos que pudessem convidar a cortes ou amenizações. Não obstante: quem transpassar uma frase como pouco me interessava o clímax da história para o sentido de valores morais eu então ainda tivera pouca compreensão já atua como censor moral. O tradutor deve saber negar suas próprias opiniões.
3. Pressa
Traduções, diz-se, são sempre mais compridas. Deve ser verdade – de outro lado, sempre se perde algo no caminho. Palavras, orações, frases, parágrafos desaparecem sem deixar vestígios: perdem-se num dos processos de cópia. Pressa transforma o Pacífico em Atlântico, uma história moralista numa muito imoral.
Ela apresenta resultados grotescos quando foge a expressões incompreendidas. Dizia sitting successfully for the viva, e como é facilmente verificável por intermédio de um dicionário, não pode significar nada mais do que passar na prova oral. O apressado, contudo, lê: vivat em vez de viva, e isso leva a traduções tais como: receber com sucesso as homenagens rendidas da multidão (falando-se, bem entendido, de um homem que pretende ser cônsul); posar com sucesso para o visto (que, por conseguinte, deve ser algo como um retrato do detentor do visto); saber expedir bem os vistos.
4. Ignorância do contexto
A mais empenhada revista de dicionários não dispensa o tradutor da necessidade de acompanhar o raciocínio. Precisa perceber que na história de Green o menino tantas vezes leu o romance “Foe-Farrell” por ter cogitado revanche, e não o contrário. Aliás, Fritz Güttinger fala algo sobre a prática da tradução literária, “Zielsprache” [Língua-Alvo], em seu interessante livro.
Por exemplo, lembra que dinner é freqüentemente mal traduzido. Significa refeição “principal”. Até meados do século XIII, era tomada ao meio-dia, ou ao início da tarde. Na segunda metade do século XIII, os horários das refeições dos círculos nobres começaram a se deslocar gradativamente para a noite. Quando aparece dinner num texto inglês moderno, via de regra, será janta, ainda que na Alemanha seja o almoço a refeição principal. E em textos mais antigos, apenas o saberá traduzir bem quem observar todos os indícios da hora do dia que o contexto fornecer. “O contexto é elemento tão significativo da observação quanto a forma sonora da palavra... Negligenciar o contexto ou, em outras palavras, o credo insuspeito de que o significado se encontra em palavras qual o chá na xícara; dinner seria ‘almoço’, independente do contexto do uso da palavra”, seria uma das mais freqüentes fontes de equívocos.
5. Frase salada russa
Nem sempre será possível manter exatamente as unidades fraseológicas da língua original. No alemão, a frase fica facilmente confusa em função de o verbo freqüentemente ficar no final da frase, e em função do difícil emprego das tão cômodas orações participiais. Num caso desses, é melhor uma cisão determinada do que uma irreparável confusão lingüística, que afinal não houve no original. Devem, porém, ser temidos tradutores que cortam quaisquer longos períodos, fazendo de todo ligado um staccato canino.
6. Ênfase podre
Há tradutores que não conseguem traduzir to read a book como ler um livro. Eles mandam devorar um cartapácio. Cada muito vira um demasiado, ignoram vingança quando não gélida, impiedosa, sem compaixão. Generosamente espraiam pontos de exclamação texto afora. Por vezes, dois ou três seguidos. Afinal poderíamos ter ficado surdo com sua gritaria.
7. Teutonização
Como é sabido, a língua alemã tem uma tendência para a formação de substantivos brutos, pesados, (palavras-centauro, conforme Martin Walser), tendo alguns deles um ar de populismo nazista. Deveríamos poupar delas o autor estrangeiro. Quando Green diz loyalty, não se refere a devoção ou responsabilidade culposa, e o conflict of loyalty não é luta de credo. Qualquer baixio que consistiria nalgo como arisca admiração é rumorejo totalmente alheio a Green. Sem falar da estúpida falta de instinto em traduzir clímax como solução final.
8. Estereótipos lingüísticos
Quem adquire seu vernáculo particularmente de historietas de amor, de preferência não deveria partir para a tradução. Quando o dito cujo escutar a palavra vingança, logo associará a com brasa que, por sua vez, arde. Onde dizia sinto uma necessidade de vingança, escreve ardia-me a brasa da vingança (com o resultado de que, na seqüência, o animal debaixo da pedra se transformará em cinza quente, em que ficam remexendo).
9. Falta de fantasia lingüística
O tradutor deve saber apreciar dicionários, e ao mesmo tempo saber se lhes impor. Quem neles se amparar em demasia, redigirá algum esperanto, mas nenhum vernáculo. E o que mesmo fará quando o dicionário lhe falhar, afinal algo costumeiro?
Ao final da história aparece, então, a palavra anti-clímax; como anti-clímax, decepcionantemente diferente do esperado ápice, revela-se o último encontro dos velhos colegas de escola, e a palavra alude ao mesmo tempo ao desejo da vingança dramática, (clímax) da literatura juvenil. O tradutor não teria, pois, que fornecer apenas uma correspondência alemã para o anticlímax, teria ainda que esclarecer essas relações. A palavra anti-clímax não corresponde a nenhuma dessas finalidades, sendo, ademais, uma falsidade – tal qual o anticlímax. Neste caso só serve um rodeio, o que exige a habilidade do uso um tanto flexível da língua. Facilmente acontece o tradutor tomar liberdades desnecessárias: senti-me como um balão que perdeu seu gás. Ou é demasiado tímido, gerando palavras malogradas tal qual anti-agravamento ou não-ápice. Fantasia lingüística: isso significa saber testar possibilidades, saber balancear nuanças, arriscar desvios, se bem que comedidamente e nenhum passo além.
10. Discurso direto
Não é fácil acertar o tom exato de um diálogo De um lado, corremos o risco da artificialidade (ei, você não nos ajudara sempre na preparação ao latim?); do outro lado, de uma caricatura da gíria (rapaz, na escola sempre dava um durão no latim!). Mesmo bons tradutores chegam a fracassar do discurso direto. Desafio bem mais difícil para o tradutor ocorre apenas ao lidar com a tradução de dialetos, slang, argots e quejandos!
11. Imagens tortas
Comicidade involuntária produz com maior facilidade aquele tradutor a quem falta o faro das imagens e comparações desmesuradas, que não percebe que o lado figurativo de uma comparação é aquele que deve determinar a formulação do que segue. Maliciosos apelidos, dizia na história, foram-lhe enfiados que nem espinhos sob as unhas. Aqui não funciona nem apelidos acertavam-no que nem espinhos (que afinal não são projéteis), nem foram entremeados, implantados, envolvidos, enredados ou jogados. Resulta sempre em mera catacrese.
12. Barreiras de importação
Em textos estrangeiros sempre aparecem coisas que não existem na Alemanha. O que fazer? Primeiramente, devem ser reconhecidos. The head of the house é o mais velho da casa, o prefeito de um internato inglês (representante da turma já seria demasiado alemão). Quem não percebe isso, enfia-se em abstrusos descaminhos. Pare ele, esse irmão mais velho vem a ser o chefe de família, dono da casa, espírito líder do lar, proprietário da casa, caseiro. E a seguinte variante permite conclusões sobre relações familiares incomuns: meu pai era chefe supremo; meu irmão mais velho, chefe de minha família. Até quem reconhece com certa precisão o certo, nem sempre o saberá expor. O cacique é aqui tão inconveniente quanto o policial, o diretor da divisão escolar, o chefe da casa escolar ou mesmo o chefe de grupo e o líder de grupo.
13. Imposição de vícios lingüísticos
Ao estranho autor gentilmentenão se deveria impor os próprios vícios lingüísticos. Se para a gente tudo tiver um tchãou graça, e se nãosimplesmente ocorrer, masocorrer um tanto peculiarmente, o autor traduzido, não obstante, merece misericórdia.

21 de junho de 2009

Divagações de tradutor

Férias! Último dia! Deixemos assuntos cabeludos para a próxima semana. Fiquemos com a leveza do ser tradutor! Leveza que paira. Por definição. Coisa de segundo grau, de física e gravidade. Hoje, de ensino médio e de gravidez.
Cabeças humanas divagam. Fazem-no desde que são humanas. (Não: desde que humanas. Pessoalmente, creio que já o fizeram antes.) Quando literário o tradutor, ou das ciências sociais, o ofício reforça o vagar. Afinal, faz diferença descrever parafusos ou feições e corações.
Com que não nos alimentam nossos autores: paisagens naturais, paisagens humanas, perfiladas ou apenas faciais. A observação de uma flor e seu beijador. O mirar e pensar do cão amigão. As relações humanas e desumanas. Sons e odores, sentimentos e rumores. Já me envolvi com terrorismo e comunismo; lençóis freáticos, meio ambiente; solidariedade e educação. Tutti fruti. Como não acompanhar, pensar, sonhar, aprender e crer.
Meu atual autor me ocupa com a questão e gestão da ética. Reconheço na ética a palavra das palavras. Acima de amor e mandamentos. O pico da montanha dos conceitos. Houvesse ética generalizada, não bastaria? Não seria melhor do que o amor ao próximo, mandamento predileto da infiel? Ou o amor generalizado, não necessariamente ético?
Bem, é o campo dos filósofos. Limitemos as divagações:
São certas orações, certas abordagens que me vêm à mente nesta ocupação oficiosa com a ética. Já ouvi gente rezando por minha sorte financeira! Fico feliz em deus ter a grandeza suficiente de indeferir. Imagine a inflação zimbabuana que daria se atendesse? Bilionário, mais pobre seria do que o agora milenário.
Intrigam-me também os dois goleiros que, prestes ao início do chutebol, ajoelhados, em gestos cruzados, religiosamente imploram seus deuses, em geral idênticos, encomendando a sorte para si, o azar para o semelhante. Definitivamente! Não têm misericórdia para com seus deuses.
O humano desejo daquela hora só pode ser muito delicado, evidentemente, para não constranger. Algo como “dai-me minhas forças”! Afinal, é preciso ser ético.
Também com deus.
16 de agosto de 2009


A viagem foi danada.

Escuridão e chuva. Longo trajeto. Conhecido. Mesmo assim: às vezes não sabia onde estava.  Não – claro – estava no carro, meu carro. Digo, não sabia onde estava o carro...  Ai, claro que sabia onde estava o carro. Estava comigo. Socorro! Alguém misericordioso pode me ajudar a me expricá? Pufavô!
Ah! Talvez assim: não sabia onde nos encontrávamos.  Mas sempre nos encontrávamos na garagem. Principalmente às manhãs 
Desisto. Já não consigo dizer o tenho a dizer.

25 de julho de 2015

19 de junho de 2014

Esfinge não !

Acho que foi uma esfinge.

Normalmente esfinges são masculinas. Admiro as mulheres que conseguem lidar com elas.  Eu não consigo. Creio que já foi a segunda com que me envolvi. Ou que me envolveu.

A esfinge é um ser atraente, e atração não requer necessariamente a beleza.

Sedutor é seu eterno enigmático sorriso conquistador de intimidades, característica particularmente feminina. Permite-nos sonhar as respostas nunca dadas às sigilosas perguntas nunca pronunciadas.

Está aí o problema :  reflete-se em seu simpático rosto pétreo nosso sonho que sempre anda à procura da felicidade fugaz sempre. Recaem depois elevadíssimos juros sobre nossas fugazes felicidades. Alguns aprendemos, já outros ...

Vale aqui um parêntesis:  alguns aprendem adotando a parca teoria do "antes e depois".  Teoria furada porque só conhece vítima. Onde já se viu efeito sem causa? Não merece o nome teoria.

Enigma, aliás? Esfinge tem um coração consabidamente pétreo. Um enigma provém de sangue quente. Esfinge é um enigma ao quadrado.  Pétreo espelho.

Pensando bem: Não sei se foi. Foi tão distinta da imagem do espelho. De esfinge virou enigma. Por outro lado: enigma fala.



14 de junho de 2014

Textos acadêmicos - aridez e estilo

Note: termos sublinhados correspondem a erros, grifos itálicos a críticas ao estilo.

Texto 1
Os impactos da ocupação sucessiva das sociedades humanas sobre o meio na bacia hidrográfica da sanga do Boi, sudeste do Rio Grande do Norte.
Texto original:
1 - A província geomorfológica conhecida por Depressão Periférica do Rio Grande do Norte, em especial as áreas pertencentes à bacia hidrográfica da sanga do Boi, no sudoeste do RN, apresentam características paisagísticas originais. 2 - Elas podem ser observadas em diferentes escalas de análise, tanto em detalhe, quando se trata das dinâmicas do meio, como no que se refere aos grandes compartimentos da paisagem. [...] 3 - Tais usos estão associados às potencialidades do meio, em especial, a vegetação nativa e a fertilidade do solo. 4 - Contudo, os processos morfogenéticos identificados na bacia têm sido potencializados em virtude da fragilidade do meio e dos manejos introduzidos na área, fator que tem inviabilizado, em parte, a produção agrícola em parcelas das propriedades rurais. 5 - Recentemente, a implantação da monocultura do eucalipto nos campos limpos para o abastecimento da indústria de celulose, vem provocando novas interferências na ocupação e uso do solo da região. 6 - É neste contexto que o presente estudo tem o objetivo de associar as mudanças de uso e ocupação ao processo de degradação do meio; em especial a sua interferência sobre as Áreas de Preservação Permanente (APPs) e sobre a dinâmica da sanga da Areia, espacializando tais mudanças em uma área piloto, ao longo do tempo. 7 - A legislação brasileira define as APPs como sendo uma área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico da fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas. 8 - A inserção desta discussão no contexto da temática definida para a participação no encontro, permite colocar na pauta global de discussão questões referentes às particularidades do bioma, buscando contribuir na busca de elementos que considerem as trajetórias históricas da mudança do uso da terra a partir de uma perspectiva sócio-ecológica para a manutenção do equilíbrio do meio.



Crítica
Os impactos da ocupação sucessiva das sociedades humanas sobre o meio na bacia hidrográfica da sanga do Boi, sudeste do Rio Grande do Norte.


1 - A província geomorfológica conhecida por Depressão Periférica do Rio Grande do Norte, em especial as áreas pertencentes à bacia hidrográfica da sanga do Boi, no sudoeste do RN, apresentam características paisagísticas originais. 2 - Elas podem ser observadas em diferentes escalas de análise, tanto em detalhe, quando se trata das dinâmicas do meio, como no que se refere aos grandes compartimentos da paisagem. [...] 3 - Tais usos estão associados [associam-se] às potencialidades do meio, em especial, a vegetação nativa e a fertilidade do solo. 4 - Contudo, os processos morfogenéticos identificados na bacia têm sido potencializados em virtude da fragilidade do meio e dos manejos introduzidos na área, fator que tem [ ] inviabilizado, em parte, a produção agrícola em parcelas das propriedades rurais. 5 -  Recentemente, a implantação da monocultura do eucalipto nos campos limpos para o abastecimento da indústria de celulose, vem provocando novas interferências na ocupação e uso do solo da região. 6 - É neste contexto que o presente estudo tem o objetivo de associar as mudanças de uso e ocupação ao processo de degradação do meio; em especial a sua interferência sobre as Áreas de Preservação Permanente (APPs) e sobre a dinâmica da sanga do Boi, espacializando tais mudanças em uma área piloto, ao longo do tempo. 7 - A legislação brasileira define as APPs como sendo uma área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, [ ] facilitar o fluxo gênico da fauna e flora, [ ] proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas. 8 - A inserção desta discussão no contexto da temática definida para a participação no encontro, permite colocar na pauta global de discussão questões referentes às particularidades do bioma, buscando contribuir na busca de elementos que considerem as trajetórias históricas da mudança do uso da terra a partir de uma perspectiva sócio-ecológica para a manutenção do equilíbrio do meio.




ESTRUTURA, PROCESSO, FUNÇÃO E FORMA NO SETOR AGRÁRIO DO NOROESTE DO ESTADO DO RS 
texto 2  
original
1 - A integração e aplicação dos conceitos e métodos da Geografia em muitos casos apresentam significativa complexidade, em especial quando se utiliza referenciais que trazem um amplo grau de aprofundamento acadêmico. 2 - Em muitos casos isto pode dificultar a compreensão de determinados acontecimentos dentro de um quadro mais amplo de analise, sobretudo, por necessitar da utilização de resgates históricos que auxiliem na definição dos cenários atuais em que determinados segmentos da sociedade atuam. 3 - Este artigo tem a finalidade de avaliar de que maneira ocorreu o avanço da compreensão e aplicação do Código Florestal Brasileiro e, de outro lado, como ocorreu o processo de uso e ocupação do território da Região Noroeste do Rio Grande do Sul. 4 - Para tornar possível tal análise, tomamos por base o processo de colonização européia no RS, os fluxos migratórios, o desmatamento e a atividade agrícola, assim como a degradação e a consciência ambiental adquiridas no período. 5 - As conexões necessárias para a compreensão dos dois cenários colocados, o processo de uso e ocupação do solo e o avanço do código florestal, serão buscadas através dos escritos de Milton Santos (19xx), obra na qual o autor trata da estrutura, do processo, da função e da forma como categorias do método geográfico. 6 - Através das discussões apresentadas pelo autor será possível identificar as diferentes temporalidades presentes e destoantes nos cenários em questão. 7 - As relações que se estabelecem entre a estrutura, o processo, a função e a forma, as questões de uso e ocupação do solo e a compreensão e aplicação da legislação ambiental, partem do conceito de espaço que constitui uma realidade objetiva, que é um produto social em processo permanente de transformação. 8 - Uma vez que o espaço impõe sua própria realidade, fica evidente que há, ao menos, dois tempos distintos a serem considerados nas questões de análise regional: o tempo do processo de ocupação regional - que gera o enfrentamento com a natureza sob o aspecto da sua ocupação - e que resultará em novas formas dotadas de rugosidades que contarão a história regional futura; 9 - o tempo político - representado pelas políticas públicas e pelas evoluções legais - que ocorrem em total descompasso com o desenvolvimento regional. 10 - Cabe aos pesquisadores acompanhar a aplicação das novas legislações e adaptações a elas, para possibilitar a continuidade das avaliações iniciadas pelo presente artigo.

crítica
1 -  [ ] A integração e aplicação dos conceitos e métodos da Geografia em muitos casos apresentam significativa complexidade, em especial quando se utiliza [utilizados] referenciais que trazem um amplo grau de aprofundamento acadêmico. 2 - Em muitos casos isto pode dificultar a compreensão de determinados acontecimentos dentro de um quadro mais amplo de analise, sobretudo, por necessitar da utilização de resgates históricos que auxiliem na definição dos cenários atuais em que determinados segmentos da sociedade atuam. 3 - Este artigo tem a finalidade de [avalia] avaliar de que maneira ocorreu o avanço da compreensão e aplicação do Código Florestal Brasileiro e, de outro lado, [oposição] como ocorreu o processo de uso e ocupação do território da Região Noroeste do Rio Grande do Sul. 4 - Para tornar possível tal análise, tomamos por base o processo de colonização européia no RS, os fluxos migratórios, o desmatamento e a atividade agrícola, assim como a degradação e a consciência [nexo?] ambiental adquiridas no período. 5 - As conexões necessárias para a compreensão dos dois cenários colocados, o processo de uso e ocupação do solo e o avanço do código florestal, serão buscadas através dos escritos de Milton Santos (19xx), obra na qual o autor trata da estrutura, do processo, da função e da forma como categorias do método geográfico. 6 - Através das discussões apresentadas pelo autor será possível identificar as diferentes temporalidades presentes e destoantes nos cenários em questão. 7 - As relações que se estabelecem entre a estrutura, o processo, a função e a forma, as questões de uso e ocupação do solo e a compreensão e aplicação da legislação ambiental, partem do conceito de espaço que constitui uma realidade objetiva, que é um produto social em processo permanente de transformação. 8 - Uma vez que o espaço impõe sua própria realidade, fica evidente que há, ao menos, dois tempos distintos a serem considerados nas questões de análise regional: o tempo do processo de ocupação regional - que gera o enfrentamento com a natureza sob o aspecto da sua ocupação - e que resultará em novas formas dotadas de rugosidades que contarão a história regional futura; 9 - o tempo político - representado pelas políticas públicas e pelas evoluções legais - que ocorrem em total descompasso com o desenvolvimento regional. 10 - Cabe aos pesquisadores acompanhar a aplicação das novas legislações e adaptações a elas, para possibilitar a continuidade das avaliações iniciadas pelo presente artigo.



Texto 3
Áreas de preservação permanente e o planejamento do seu uso

Original
1 - O processo de uso e ocupação da terra baseado no desmatamento e no manejo desordenado do solo gera conflitos entre a recuperação ambiental e a reprodução socioeconômica dos agricultores. 2 - Esta dicotomia reflete-se através da aplicação efetiva do Código Florestal (Lei Federal 4.771/65), que trata das Áreas de Preservação Permanente (APPs), faixas marginais aos cursos d’água que devem ser mantidas com vegetação nativa. 3 - Objetiva-se apresentar metodologia para definir as APPs ciliares a partir de elementos da geomorfologia fluvial e da cobertura vegetal como alternativa aos parâmetros legais atuais. 4 - Para chegar aos resultados se apresenta uma retomada histórica da ocupação do Noroeste do RS, Brasil, aonde se insere a área piloto, faz-se uma leitura teórica sobre conservação da natureza e discute-se as APPs em três níveis de análise: o arcabouço jurídico atual; o uso destas áreas e o seu estado da arte no Noroeste do RS. 5 - A discussão da função social da propriedade é vista como fundamental, por ser a partir dela que ocorre a responsabilização pela preservação ou não das APPs. 6 - Definimos como áreas piloto para a aplicação da metodologia, três setores do Rio Santo Cristo, para os quais definimos os diques marginais e as planícies de inundação a partir de análise cartográfica. 7 - Avaliamos a estrutura fundiária da região para possibilitar uma leitura relacionada com o tipo de propriedade existente no local. 8 - Como resultado, detectamos áreas de influência do rio variando numa distância de 20m até 380m, ou seja, APPs com faixa de até 330m superior as definidas na legislação, o que mostra a ineficiência das definições métricas adotadas atualmente. 9 - Ficam como principais conclusões do estudo: que é urgente um estudo mais aprofundado sobre a questão das APPs para possibilitar propostas de alteração da legislação que busquem parâmetros técnicos efetivos para sua definição; que se busque o desenvolvimento de estudos que objetivem apresentar alternativas de uso sustentado para estas áreas; que se avaliem os conceitos de preservação e conservação entendendo que o último traz uma grande gama de benefícios para as pequenas propriedades, na medida em que as práticas conservacionistas auxiliam no equilíbrio da natureza e trazem ganhos reais à produção destas propriedades.


crítica
1 - O processo de uso e ocupação da terra baseado no desmatamento e no manejo desordenado do solo gera conflitos entre a recuperação ambiental e a reprodução socioeconômica dos agricultores. 2 - Esta dicotomia reflete-se através da aplicação efetiva do Código Florestal, que trata das Áreas de Preservação Permanente (APPs), faixas marginais aos cursos d’água que devem ser mantidas com vegetação nativa. 3 - Objetiva-se apresentar metodologia para definir as APPs ciliares a partir de elementos da geomorfologia fluvial e da cobertura vegetal como alternativa aos parâmetros legais atuais. 4 - Para chegar aos resultados se apresenta uma retomada histórica da ocupação do Noroeste do RS, Brasil, aonde se insere a área piloto, faz-se uma leitura teórica sobre conservação da natureza e discute-se as APPs em três níveis de análise: o arcabouço jurídico atual; o uso destas áreas e o seu estado da arte no Noroeste do RS. 5 - A discussão da função social da propriedade é vista como fundamental, por ser a partir dela que ocorre a responsabilização pela preservação ou não das APPs. 6 - Definimos como áreas piloto para a aplicação da metodologia, três setores do Rio Santo Cristo, para os quais definimos os diques marginais e as planícies de inundação a partir de análise cartográfica. 7 - Avaliamos a estrutura fundiária da região para possibilitar uma leitura relacionada com o tipo de propriedade existente no local. 8 - Como resultado, detectamos áreas de influência do rio variando numa distância de 20m até 380m, ou seja, APPs com faixa de até 330m superior as definidas na legislação, o que mostra a ineficiência das definições métricas adotadas atualmente. 9 - Ficam como principais conclusões do estudo: que é urgente um estudo mais aprofundado sobre a questão das APPs para possibilitar propostas de alteração da legislação que busquem parâmetros técnicos efetivos para sua definição; que se busque o desenvolvimento de estudos que objetivem apresentar alternativas de uso sustentado para estas áreas; que se avaliem os conceitos de preservação e conservação entendendo que o último traz uma grande gama de benefícios para as pequenas propriedades, na medida em que as práticas conservacionistas auxiliam no equilíbrio da natureza e trazem ganhos reais à produção destas propriedades.



Texto 4
Original
1 - O artigo utiliza a categoria de lugar para compreender as relações dos sujeitos entre si com os outros, bem como com os recursos naturais e os problemas ambientais decorrentes.  2 - O lugar é um recorte espacial, onde se materializam as ações humanas em que as pessoas constituem concepções, relações, práticas e atitudes. 3 - O ser humano, pela necessidade de sobrevivência ou pela lógica de acumulação do capital, pode constituir consciências e práticas destrutivas ou preservadoras dos recursos naturais.  4 - Objetivou-se enfocar a escassez de água e os problemas ambientais, a partir de um Estudo de Caso, em que o local X se relaciona com o global, identificando as pressões econômicas e ambientais, que submetem os suinocultores no processo produtivo. 5 - Propõe-se o reconhecimento da interação entre os atores envolvidos e as ações educativas formais e informais na perspectiva da sustentabilidade.
crítica
1 - O artigo utiliza a categoria de lugar para compreender as relações dos sujeitos entre si com os outros, bem como com os recursos naturais e os problemas ambientais decorrentes.  2 - O lugar é um recorte espacial, onde se materializam as ações humanas em que as pessoas constituem concepções, relações, práticas e atitudes. 3 - O ser humano, pela necessidade de sobrevivência ou [também ou talvez??] pela lógica de acumulação do capital, pode constituir consciências e práticas destrutivas ou preservadoras dos recursos naturais.  4 - Objetivou-se enfocar a escassez de água e os problemas ambientais, a partir de um Estudo de Caso, em que o local X se relaciona com o global, identificando as pressões econômicas e ambientais, que submetem os suinocultores no processo produtivo. 5 - Propõe-se o reconhecimento da interação entre os atores envolvidos e as ações educativas formais e informais na perspectiva da sustentabilidade.


Texto 5
Original
1 - A Leishmaniose visceral canina é uma zoonose de suma importância para a saúde pública causada pelo protozoário Leishmania, é uma doença grave de curso lento e crônico, que causa lesões de pele, úlceras, alopecias, emagrecimento, ornicogrifose, insuficiência renal e pode levar os animais não tratados e pessoas a morte. 2 - A Leishmaniose é transmitida pela picada do mosquito palha e o principal reservatório são os cães. 3 - O diagnóstico pode ser realizado através de três métodos: parasitológico, sorológico e métodos moleculares. 4 - Hoje no Brasil existe uma grande polêmica em relação aos animais soropositivos, pois o tratamento é proibido pela Constituição pelo alto risco de transmissão para os humanos, indicado assim a eutanásia dos animais. 5 -  A prevenção da doença se faz com o combate ao mosquito transmissor utilizando coleiras anti-mosquitos, inseticidas nos ambientes onde os cães vivem e as vacinas que protegem os cães evitando assim a disseminação da doença.    


crítica
1 - A Leishmaniose visceral canina é uma zoonose de suma importância para a saúde pública causada pelo protozoário Leishmania, é uma doença grave de curso lento e crônico, que causa lesões de pele, úlceras, alopecias, emagrecimento, ornicogrifose, insuficiência renal e pode levar os animais não tratados e pessoas a morte. 2 - A Leishmaniose é transmitida pela picada do mosquito palha e o principal reservatório são os cães. 3 - O diagnóstico pode ser realizado através de três métodos: parasitológico, sorológico e [molecular] métodos moleculares. 4 - Hoje no Brasil existe uma grande polêmica em relação aos animais soropositivos, pois o tratamento é proibido pela Constituição pelo alto risco de transmissão para os humanos, indicado assim a eutanásia dos animais. 5 -  A prevenção da doença se faz com o combate ao mosquito transmissor utilizando coleiras anti-mosquitos, inseticidas nos ambientes onde os cães vivem e as vacinas que protegem os cães evitando assim a disseminação da doença.    


Texto 6
original
1 - O processo de ensino-aprendizagem através do trabalho interdisciplinar tem buscado alternativas para a sua concretização e efetivação como ferramental indispensável nas diferentes áreas do conhecimento. 2 - Assim, considerando-se que como boa parte dos conteúdos trabalhados pela disciplina de geografia possibilitam uma grande aplicação prática, seria válida a contribuição através do desenvolvimento do presente estudo tendo como objetivo principal a apresentação de metodologias de trabalho utilizando-se saídas de campo como técnica de construção do conhecimento.  3 - Este processo está pautado nas questões que definem os processos de educação através da interdisciplinariedade, uma vez que se entende que o conhecimento não deva ser fragmentado, mas sim, construído de forma coletiva entre todas as áreas do conhecimento.  4 - Como resultado deste estudo prático pode-se enfatizar questões como: maior assimilação dos conteúdos por parte dos alunos em virtude dos trabalhos conjuntos entre mais disciplinas, o aumento do significado das questões relacionadas a espacialidade, o aumento nos processos de análise realizados pelos alunos, fácil compreensão da utilização de novas tecnologias em sala de aula, como imagens de satélite, aumento no interesse pelas aulas, entre outras.  5 - Desta forma, a interdisciplinariedade construída a partir da concepção dos trabalhos de campo é uma forma bastante eficaz nas atividades de ensino-aprendizagem nos dias atuais.

crítica
1 - O processo de ensino-aprendizagem através do trabalho interdisciplinar tem buscado alternativas para a sua concretização e efetivação como ferramental indispensável nas diferentes áreas do conhecimento.  2 - Assim, considerando-se que como boa parte dos conteúdos trabalhados pela disciplina de geografia possibilitam uma grande aplicação prática, seria válida a contribuição através do desenvolvimento do presente estudo tendo como objetivo principal a apresentação de metodologias de trabalho utilizando-se saídas de campo como técnica de construção do conhecimento.  3 - Este processo está pautado nas questões que definem os processos de educação através da interdisciplinariedade, uma vez que se entende que o conhecimento não deva ser fragmentado, mas sim, construído de forma coletiva entre todas as áreas do conhecimento.  4 - Como resultado deste estudo prático pode-se enfatizar questões como: maior assimilação dos conteúdos por parte dos alunos em virtude dos trabalhos conjuntos entre mais disciplinas, o aumento do significado das questões relacionadas a espacialidade, o aumento nos processos de análise realizados pelos alunos, fácil compreensão da utilização de novas tecnologias em sala de aula, como imagens de satélite, aumento no interesse pelas aulas, entre outras.  5 - Desta forma, a interdisciplinariedade construída a partir da concepção dos trabalhos de campo é uma forma bastante eficaz nas atividades de ensino-aprendizagem nos dias atuais.